Decisões
econômicas
são feitas na margem. Esta
foi a fundamental constatação feita pela escola marginalista de
economia. Já por volta de 1875, esse enfoque já estava solidificado.
Essa é a visão da Escola Austríaca de
Economia.
No
mundo atual, não ha commodity que seja mais fundamental do que o petróleo. Não há como armazenar petróleo (exceto para
os produtores, que podem deixá-lo no subsolo).
Não há como um país importador de petróleo construir tanques para
armazenar um bilhão de barris de petróleo, que é o volume que o mundo consome a
cada 11 dias.
Sendo
assim, a menos que os atuais produtores de petróleo decidam reduzir sua
produção, a atual tendência de aumento da produção irá seguir pressionando para
baixo os preços na margem.
A
crescente produção de gás e óleo de xisto — por meio do processo de fratura
hidráulica, popularmente chamada de fracking — nos EUA
terá de ser vendida. E esse aumento da
produção está ocorrendo exatamente em um momento em que a Europa, Japão e China
estão vivenciando ou recessões ou uma desaceleração econômica. A menos que os países da OPEP decidam reduzir
sua produção com o intuito de contrabalançar o aumento da produção observado no
Canadá e nos EUA, o preço do petróleo irá continuar caindo.
Eis
a estimativa da Administração de Informação sobre Energia (EIA — Energy
Information Administration) do governo americano publicada no dia 9
de dezembro:
A produção de petróleo nos EUA irá aumentar da atual média de 7,4 milhões de barris por dia em 2013, para 8,6 milhões de barris por dia em 2014 e para 9,3 milhões de barris por dia em 2015.
A recente produção de petróleo em terra dos 48 estados (exceto Alasca) tem sido mais alta do que o esperado, o que gerou uma revisão para cima, aumentando mais 155.000 barris por dia, desde a última previsão feita já no quarto trimestre de 2014. No entanto, dada a previsão de queda no preço do barril de petróleo para 2015, com os preços do petróleo WTI (West Texas Intermediate) apresentando uma média de US$58 por barril no segundo trimestre de 2015, a EIA prevê que as atividades de extração em 2015 irão declinar em decorrência dos menos atraentes retornos econômicos em algumas áreas, tanto das regiões produtoras já antigas quanto das emergentes.
Várias empresas irão redirecionar seus investimentos, retirando-os das explorações marginais e das pesquisas de prospecção e direcionando-os para as principais áreas de exploração. Os preços atuais do petróleo ainda estão altos o bastante para manter rentáveis explorações nas Bacias de Bakken, Eagle Ford, Niobrara e Permian, as quais contribuem para a maior parte do crescimento da produção de petróleo nos EUA.
Ontem,
o petróleo WTI estava sendo vendido a US$58 o barril. Este era exatamente o preço estimado pelo
governo americano para o ano que vem.
Essa estimativa do governo foi publicada no dia 9 de dezembro. Em seis dias, o preço estimado foi
alcançado. Ou seja, os preços do
petróleo estão caindo muito rapidamente.
Já
ficou claro que a Arábia Saudita não irá reduzir sua produção. Isso significa que os países da OPEP terão de
seguir aquilo que a Arábia Saudita fizer — caso contrário, eles perderão sua
fatia de mercado. Trata-se de um exemplo
de um cartel que puxa os preços para baixo, o que deve confundir bastante a
cabeça daqueles que dizem que cartéis sempre conspiram contra o consumidor e
sempre elevam os preços.
Essa
notícia saiu
ontem:
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo não irá reduzir sua produção mesmo se os preços caírem para US$40 o barril, disse o Ministro da Energia dos Emirados Árabes, Suhail Al-Mazrouei. Desde que a OPEP decidiu, em seu encontro no dia 27 de novembro, que não iria reduzir a produção para contrabalançar a oferta excessiva, os preços já caíram 20%. Nos últimos seis meses, o grupo vem produzindo mais do que sua meta de 30 milhões de barris por dia.
A
notícia estava se referindo ao preço do barril do tipo Brent, que caiu para
US$63 ontem.
A
Arábia Saudita é quem dita as regras na OPEP.
Ela está acertando as contas com vários desafetos. Está acertando as contas com o Irã
xiita. Está destruindo os planos
financeiros do governo iraniano. Está
fazendo o mesmo com o governo russo, que é aliado do Irã e é um grande
concorrente da Arábia Saudita.
Ao
se recusar a reduzir sua produção, a Arábia Saudita está simplesmente
aniquilando as finanças do governo russo — que ontem teve de disparar sua taxa
básica de juros de 10,5% para 17% apenas para conter a forte desvalorização do
rublo, consequência direta da queda do preço do petróleo, a principal
mercadoria exportada pela Rússia.
Ao
mesmo tempo, a Arábia Saudita está tornando mais caro e menos rentável a
exploração de óleo de xisto nos EUA. No
entanto, a menos que o preço do barril WTI caia para menos de US$40 e fique por
ali, a atual postura da Arábia Saudita não terá muito efeito sobre a produção
de óleo de xisto nos EUA. Já se o preço
do WTI cair para US$40 o barril e se mantiver nesse valor, então os sauditas
terão as empresas americanas que exploram óleo de xisto sob seu controle. Isso não irá reduzir a produção de óleo de
xisto, mas irá gerar algumas falências.
Os atuais investidores perderão dinheiro, mas outros irão comprar suas
propriedades. Se há petróleo para ser
extraído, petróleo será extraído.
Em
fevereiro de
2009, o petróleo WTI chegou a US$37,51.
Isso ocorreu no ápice de uma grande recessão. Mas em dezembro daquele ano, o WTI já havia
subido para US$80. Não prevejo nenhuma
grande recessão ocorrendo no ano que vem.
A economia mundial não está robusta, mas também não estamos em
2008. Se o WTI chegar a US$45, isso será
uma grande oportunidade para comprar ações de empresas de energia. Meu palpite é que os preços estarão entre
US$75 e US$80 daqui a um ano. O pânico
que vemos hoje não seria um prenúncio de uma repetição de 2009 no ano que vem.
A
velocidade e a magnitude do declínio que estamos observando nesse mês de
dezembro pegaram praticamente todos de surpresa. Os preços se mantiveram estáveis até junho,
mas com os sauditas anunciando abertamente que não têm a intenção de reduzir
sua produção, os preços despencaram.
Os
sauditas podem jogar esse jogo por vários anos.
Já os iranianos não. Eles não estão
em uma situação similar domesticamente.
E nem os russos. Ambos estão
operando sob sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia.
Por
outro lado, os sauditas também estão em posição de tumultuar o mercado de
debêntures que está financiando a exploração de petróleo nos EUA. Ainda não está claro por quanto tempo os
sauditas continuarão jogando esse jogo, mas está claro que se trata de uma
conveniência política, e não financeira.
Tudo vai depender de quanto tempo o governo saudita está disposto a abrir
mão de receitas com o intuito de impor sanções contra o Irã. Se o governo saudita cortar sua produção, ele
poderá obter preços maiores, mas o resultado líquido pode não ser grande, pois
haverá menos vendas. De novo, a decisão
será feita na margem.
O
governo saudita está fazendo questão de deixar claro para todos quem é que
manda na OPEP.
Tudo
isso é benéfico para os consumidores ao redor do mundo [Nota do IMB: menos para
os brasileiros, que continuam refém de uma estatal monopolista gerenciada por políticos
corruptos e que, para recuperar suas finanças destruídas pela corrupção,
aumentou o preço da gasolina justamente em um momento em que os preços da
gasolina estão despencando em todo o planeta].
Do ponto de vista político, a atual situação certamente é benéfica para
o estado de Israel. Não é benéfica para
os produtores de óleo de xisto nos EUA, mas ninguém irá derramar lágrimas por
seus eventuais prejuízos.
Haverá
repercussões devastadoras para aquelas empresas exploradoras de óleo de xisto
que expandiram sua produção em estados como Dakota do Norte, Colorado e
Texas. Essas empresas estão extremamente
endividadas. Elas venderam títulos para
financiar seu custoso fracking. Caso o preço do petróleo continue caindo, não
será rentável para elas continuar suas atividades. Elas terão de se desfazer de seus ativos.
Isso
é resultado da política de juros zero do Federal Reserve. Ela
financiou esse boom na extração de óleo de xisto. É por isso que
óleo de xisto é uma
bolha. É apenas mais um exemplo do que
acontece quando você entrega a política monetária para um punhado de
Ph.D.s em um Banco Central. Mas isso é boa notícia para os seguidores
da
Escola Austríaca que sempre disseram que a política monetária jamais
deve ficar
a cargo de um Banco Central.
Conclusão
Os
sauditas estão determinados a infligir dor ao Irã. A produção nos EUA não irá cair, não obstante
os preços baixos. As petrolíferas
americanas sofrerão bastante, mas se há campos de petróleo produzindo, há um
incentivo para o proprietário daquele campo continuar produzindo. Se o proprietário está endividado até a alma,
ele tem de continuar produzindo. Ele terá
apenas de esperar que o futuro seja melhor.
Isso vale tanto para as petrolíferas tradicionais quanto para as
empresas que lidam com xisto. "Isso é
temporário. Isso não durou muito em
2009. Não durará muito agora. Não quero interromper minhas operações e ter
de vender meus ativos. Será muito
custoso ter de recomeçar tudo de novo mais tarde".
O
mais importante motivo para qualquer país ou empresa fora dos EUA comprar
dólares é para comprar petróleo. Os
países da OPEP vendem seu petróleo em troca de dólares. Sendo assim, embora o dólar tenha encarecido
bastante em relação às outras moedas, a queda no preço do petróleo mais do que
compensou esse encarecimento do dólar para os estrangeiros. Eles agora têm de pagar mais pelo dólar, é
verdade, mas o declínio no preço do petróleo passou a ser lucrativo para quem
está comprando petróleo para revender. Para
os meros consumidores de petróleo, isso é maná vindo dos céus.
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