público indonésio criticou a polícia de seu país após a
instituição Human Rights Watch ter divulgado um relatório que mostrava
que o órgão realiza “testes de virgindade” em candidatas do sexo
feminino no seu processo de recrutamento. A revolta é compreensível e
muitos apontaram a injustiça da prática, argumentando que é sexista,
dolorosa e traumatizante. A população também aponta que a virgindade é
irrelevante para a capacidade de um oficial fazer o seu dever.
Porém, poucos questionaram o aspecto mais dúbio desta prática angustiante: a validade do teste em si.
Problema global
O teste de virgindade não é exclusivo para a Indonésia. Mulheres em
vários países são obrigadas a suportá-lo por razões que muitas vezes
nada têm a ver com seus interesses. Turquia, Egito, Marrocos e Iraque,
para citar alguns, tiveram seu quinhão do controverso teste de
virgindade. Em um caso turco do início de 1990, uma estudante cometeu
suicídio depois de passar por um teste de virgindade instruído pelo
diretor de sua escola.
A forma como ele é feito pode variar de um lugar para outro. No caso
da Polícia Nacional da Indonésia, é realizado o “teste de dois dedos”.
Em alguns lugares do Iraque, o exame é visual. A mulher é considerada
virgem quando não há nenhum sinal visível de “defeito” no seu hímen.
Contudo, não importa o método, há dois aspectos frequentemente
utilizados para determinar a virgindade de uma mulher: hímen intacto e
abertura vaginal apertada – nenhum dos dois é uma base confiável para
tal conclusão.
A lenda do hímen
O hímen é uma membrana no canal vaginal e ainda não há um consenso
sobre a sua função. Muitos acreditam que ele simplesmente não tem
utilidade alguma para o corpo da mulher.
Se a função desta membrana é considerada um mistério, a forma do seu
estado virgem é um dos maiores mitos médicos existentes. Muitos
acreditam que um hímen virgem se assemelha ou a uma membrana em forma de
balão que cobre o canal vaginal, ou um pedaço de carne em forma de anel
com uma borda lisa.
Alguns acreditam que qualquer perturbação resultará na ruptura do
hímen. Por isso, não é incomum aconselhar mulheres a terem cuidado ao
andar de bicicleta ou ao usar absorventes internos.
Na realidade, ele mais parece – usando as palavras de um médico que
frequentemente realiza reconstrução do hímen – as pétalas de uma flor.
Tem entalhes, pregas e fendas, mesmo em seu estado virgem, sendo
flexível e com diferentes densidades. Alguns hímens são finos e alguns
são mais espessos do que outros.
No caso de uma penetração, o hímen pode ser rompido. No entanto, em muitas vezes, ele se estende e é deixado intacto.
É por isso que sexólogos, ginecologistas e clínicos gerais muitas
vezes relutam quando devem opinar se uma mulher é virgem ou não com base
na condição de seu hímen. Médicos na Holanda se resumem à seguinte
resposta: “Não há indícios que sugerem que a mulher em questão não é
mais virgem”.
Suposição equivocada
O segundo aspecto que é frequentemente checado é o aperto da vagina.
Há uma crença generalizada de que uma mulher que é sexualmente intocada
tem uma abertura vaginal apertada por causa do hímen intacto e que um
homem pode discernir isto durante a relação sexual.
Esta é uma suposição equivocada, já que o diâmetro da vagina não é
consequência desta membrana, e sim resultado da contração do músculo do
pavimento pélvico. Quanto mais ele for contraído, mais estreito o canal
vaginal é.
Ainda é importante ressaltar que quando uma mulher está se sentindo
ansiosa, principalmente no sexo, ela tensiona automaticamente esta
região do corpo. Muitos médicos atribuem a isso o fato de uma mulher
virgem ser frequentemente considerada “estreita” por seu parceiro.
Mais fábula do que fato
Qualquer tipo de teste de virgindade que se baseia na observação do
hímen ou do aperto da vagina não é conclusivo, na melhor das hipóteses,
ou é completamente inválido. A crença de que é mais fácil discernir o
estado virgem de uma mulher do que de um homem é mais uma fábula que um
fato científico. Infelizmente, é uma fábula na qual ainda se acredita e
que é usada para subjugar as mulheres.
Ninguém deve ser obrigado a suportar tal questionamento, independentemente da confiabilidade do exame.
E isso que não entramos no mérito de questionar a validade do
conceito de virgindade e o que ele representa. Afinal, levar em conta
apenas o estado da vagina exclui outros tipos de sexo, como o oral e o
anal, muito provavelmente por serem considerados historicamente
“degradantes” e “impuros”, especialmente para as mulheres. Não há
conceito universal claro de virgindade, e as pessoas deveriam poder
definir marcadores significativos de intimidade por si próprias. Mas
isso é assunto para outro texto
Fonte: [I Fucking Love Science]
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