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6 de fevereiro de 2014

Os países bálticos e seu exemplo de recuperação robusta

baltics.jpgEm 2009 e 2010, as políticas de austeridade que estavam sendo aplicadas pelos países bálticos pareciam estar levando-os ao mais inexorável dos colapsos: em relação a 2008, o governo da Estônia havia reduzidos seus gastos em 4,5% em termos nominais; a Lituânia, em 4,7%; e a Letônia em espetaculares 20,1%.  Paralelamente, e para efeitos de comparação, em 2010 o governo da Espanha havia aumentado seus gastos em 7,7% em relação a 2008.  Hoje, não obstante alguns cortes feitos pelo governo de Mariano Rajoy, os gastos governamentais da Espanha seguem acima do nível alcançado em 2008.
O efeito de curto prazo sobre os bálticos certamente foi doloroso: em 2009, em plena vigência das políticas austeridade, o PIB destes três países chegou a despencar algo entre 15 e 20% em relação ao nível máximo alcançado durante o ápice da bolha de crédito que havia se formado em suas economias.  Foi aí que os apologistas do esbanjamento e da gastança estatal se puseram a fazer suas panfletagens ideológicas.  Por exemplo, em 2009, o jornal espanhol Público escreveu esta matéria a respeito da Letônia: "El bastión neoliberal de Europa se derrumba".

No entanto, a austeridade do lado dos gastos estatais logrou sanear as finanças públicas destes países.  A Estônia registrou superávit orçamentário já em 2010; a Letônia, que partiu de um déficit superior a 7% em 2009, conseguiu equilibrar seu orçamento em 2012; e a Lituânia, partindo de um déficit de 9,4% em 2009, conseguiu reduzi-lo para 3,3% em 2012.  Esta ortodoxia financeira também permitiu que estes países consolidassem seu endividamento estatal em níveis invejáveis para o Ocidente: a dívida pública da Estônia em relação ao PIB é de ínfimos 10%; a da Letônia é de 38% e a da Lituânia é de 42%.
Foi justamente este clima de rigor, de seriedade e de compromisso com um orçamento equilibrado o que transmitiu confiança aos investidores e ao mercado internacional, e que afastou por completo os temores sobre uma até então tida como inevitável desvalorização de suas moedas, as quais seguiram firmemente atreladas ao euro.  Esta previsibilidade e estabilidade proporcionou a seus cidadãos e a seus empresários a confiança suficiente para manter ou até mesmo aumentar seus níveis de poupança, o que proporcionou a suas respectivas economias o capital suficiente para alterar sua estrutura, até então voltada para atividades sustentadas meramente por bolhas creditícias.
Por exemplo, a taxa de poupança da Estônia passou de 20% do PIB em 2008 para 26% em 2013, o que facilitou a manutenção de suas taxas de investimento em elevados 27% do PIB.  Já a taxa de poupança da Letônia passou de 17% para 24%, consolidando sua taxa de investimento em quase 26% do PIB.  Finalmente, a taxa de poupança da Lituânia, mais lenta, passou de 14 para 18%, alcançando uma taxa de investimentos de 18% do PIB.
A combinação entre estes notáveis volumes de investimento — em plena crise econômica — e mercados internos substancialmente mais livres e flexíveis do que os do resto da Europa permitiu aos bálticos fazer uma revolucionária transformação na estrutura produtiva de suas economia. Se até então suas economias exibiam números robustos em decorrência de uma acentuada expansão do crédito e do consumismo que isso permitia, a recessão e sua consequente austeridade fizeram com que sua população adotasse uma postura mais poupadora e menos consumista.  
Como resultado desta combinação entre menos gastos e mais poupança, o setor exportador voltou a crescer (sem que houvesse nenhuma desvalorização cambial), o que reduziu enormemente o grande déficit nas contas externas destes países, bem como seu endividamento externo.
Entre 2007 e 2012, as exportações da Estônia subiram de 50% do PIB para 72% do PIB.  As da Letônia subiram de 27% para 44% do PIB, e as da Lituânia foram de 44 para 70%.  Graças a essa transformação na estrutura produtiva, as contas externas destes três países — marcadamente deficitárias durante a época da bolha creditícia — passaram por um acentuado aprimoramento: Estônia e Lituânia, que até então apresentavam um déficit externo de 15% do PIB, passaram a apresentar equilíbrio nas contas externas; já a Letônia reduziu seu déficit externo de 22% do PIB para 1%.  
Vale ressaltar: todo este equilíbrio foi conseguido sem nenhuma desvalorização cambial e sem qualquer imposição de tarifas de importação.  Houve apenas um rearranjo da estrutura produtiva da economia, que deixou de ser menos consumista e se tornou mais poupadora e mais voltada para produção.  O equilíbrio interno gerou o equilíbrio externo.  Tudo sem pirotecnias e sem prejudicar o poder de compra da população e nem sua liberdade de importação. 
E o resultado disso tudo foi espetacular e se traduziu em um vertiginoso crescimento do PIB e do emprego: entre 2010 e 2013, o PIB da Estônia cresceu 16% e a ocupação, 10%.  O PIB da Letônia se expandiu 15% e a ocupação, quase 6%.  Finalmente, o PIB da Lituânia cresceu 13% com uma criação líquida de empregos de 3%.
O êxito dos bálticos deveria ser uma bofetada contra os keynesianos, os quais, no entanto, seguem ardorosamente apegados aos seus lugares-comuns.  Por exemplo, segundo Paul Krugman, nenhum destes países ainda recuperou os níveis de PIB e de emprego vigentes antes da crise.  Só que esta crítica é infundada: dado que a composição do PIB em 2007 era formada por investimentos insensatos fomentados por bolhas creditícias insustentáveis e por um hiperendividamento externo, tal valor do PIB não deveria constituir referência nenhuma.  
Porém, em todo caso, a crítica ao menos soava verossímil.  Afinal, se os bálticos estavam indo tão bem, por que ainda não superaram as marcas alcançadas em 2007 ou 2008?
Felizmente, este desesperado discurso keynesiano rapidamente passará para os livros de história: prevê-se que Estônia e Lituânia irão superar, em 2014, o PIB que apresentavam antes da crise, ao passo que a Letônia logrará tal feito entre 2015 e 2016.
No entanto, há sim um número que parece ser ruim: as previsões de emprego.  Em 2014, o número de pessoas ocupadas na Estônia será 4% menos do que o máximo alcançado antes da crise.  Na Letônia, será de 14%, e na Lituânia, de 8%.  Sendo assim, o êxito dos bálticos neste quesito pode parecer um tanto parco, algo que aparentemente poderia dar razão aos keynesianos.  No entanto, há ressalvas.
Podemos começar comparando os bálticos com a economia espanhola, a qual não irá de recuperar o nível de PIB alcançado antes da crise pelo menos até o final desta década, e cujo nível de emprego em 2014 será quase 20% inferior ao de 2007.  Ou podemos também comprar os bálticos à Islândia, a menina dos olhos de Krugman e do resto dos keynesianos — país este que, em decorrência de sua acentuada desvalorização monetária, passou a ser um paradigma de como superar uma crise com prontidão —, e que, não obstante haver triplicado seu endividamento público, só irá recuperar o PIB alcançado antes da crise em 2016 (igual à Letônia e pior do que Lituânia e Estônia).  Mais ainda: seu nível de emprego em 2014 será 8% inferior ao máximo alcançado antes da crise.
Ademais, os dados de emprego dos bálticos, embora não sejam lustrosos, devem ser ponderados por sua evolução demográfica.  Por causa de sua baixa natalidade e, principalmente, por causa de seus intensos movimentos migratórios, Estônia, Letônia e Lituânia já vêm perdendo sua população há 25 anos.  Embora haja a tendência de se imaginar que as fortes emigrações que estes países vivenciaram nos últimos anos se deveram à crise econômica, a realidade é que essa influência foi meramente secundária.  Por exemplo, na Letônia — que é o pior entre os bálticos em termos econômicos e que também é o país com a maior emigração —, o saldo migratório líquido apresentava uma saída média de 15.600 entre 1991 e 2007 e passou a apresentar uma média de 24.800 entra 2008 e 2012 (isto é, a perda anual de população via emigração durante os anos da crise não chegou a 0,5% dos cidadãos, uma porcentagem similar à apresentada pela Espanha em 2012).  
A emigração dos bálticos está mais vinculada a fatores políticos e étnicos: a população russa nestes três países foi reduzida em 40% nos últimos 25 anos, o que significa que quase metade da variação de população que estes países sofreram desde então decorreu deste movimento de russos.
No entanto, contrariamente ao que gostam de afirmar seus críticos, esta queda da população não apenas não retira o mérito do milagre econômico dos bálticos, como na realidade o intensifica ainda mais: afinal, conseguir crescimentos econômicos intensos mesmo com um declínio demográfico é algo muito mais difícil.  Por exemplo, a renda per capita da Lituânia já superou, em 2012, o auge alcançado antes da crise.  A Letônia fará isso em 2014.  Já a Islândia, por outro lado, só conseguirá tal feito em 2018, segundo as atuais previsões.
Desta forma, portanto, se corrigirmos o emprego pela variação demográfica, obtemos um retrato mais representativo do ocorrido: o número de empregados em relação à população total na Estônia será, em 2014, de 47,6% em relação aos 49% de 2008; para a Letônia será de 43,8% em relação aos 46,3% de 2008; e para a Lituânia será de 39,2% em relação aos 37,8% de 2008.  Compare isso à Espanha, que caiu de 45,4% em 2007 para 37,7% em 2014 ou com a muito keynesianamente admirada Islândia, que caiu de 52% para 46,6%.
O que podemos concluir em definitivo é que os bálticos são um modelo de recuperação a ser seguidos por países como Espanha, Grécia ou Islândia, ou por todos aqueles países que ainda virão a enfrentar uma forte correção em suas economias que atualmente estão sendo atividades por bolhas creditícias.  O segredo do sucesso é o mesmo de sempre: austeridade do setor público e liberalização do setor privado; mais poupança e investimento, e menos gastança; mais mercado e menos estado.
Fonte:Mises

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