Não
é nenhum exagero dizer que a atual reputação dos economistas provavelmente está
abaixo da do vendedor de carros usados ou da do mecânico desonesto. Talvez só esteja melhor que a dos políticos.
A
situação começou a degringolar de forma aparentemente irreversível quando
praticamente nenhum economista — com as exceções de praxe —
foi capaz de prever a crise financeira americana e europeia. E o recente fracasso das políticas econômicas
norte-americana, europeia e latino-americana em estimular o crescimento e o
emprego serviram para manchar ainda mais esta já combalida imagem.
Tudo
isso, no entanto, contrasta acentuadamente com o passado, quando economistas
eram vistos como um obstáculo moral e intelectual a populismos, a aventuras
heterodoxas e, ainda mais importante, a políticas governamentais baseadas em
premissas falsas.
Por
exemplo, um slogan popular como "proteger a indústria nacional" é
eleitoralmente eficiente e de grande apelo popular, mas na realidade nada mais
é do que a imposição de uma reserva de mercado, algo que serve apenas aos
interesses de uma elite empresarial muito poderosa, ineficiente e de
mentalidade cartorial. Os economistas do
passado jamais hesitariam em realçar as falácias deste raciocínio.
A
maioria dos economistas de hoje, no entanto, já se vendeu ao inimigo. Eles trabalham ou para agências
governamentais — tanto nacionais, como institutos de estatística e Banco
Central, quanto internacionais, como FMI, OECD, Banco Mundial — ou para
universidades que dependem de dinheiro do governo e cujas pesquisas são
fortemente subsidiadas por outras agências do governo. Para ser bem-sucedido, esses economistas têm
de seguir ordens. Não se morde a mão que nos alimenta.
No
momento, estes economistas e jornalistas de aluguel estão muito ocupados nos
alertando sobre os perigos de uma deflação
de preços na Europa e sobre os riscos de uma inflação de preços
extremamente baixa nos EUA. Ao mesmo
tempo, alertam sobre os perigos de uma alta inflação de preços na América
Latina. Ou seja, ao mesmo tempo em que
corretamente alertam para os desarranjos e incertezas gerados por uma alta
inflação de preços, eles também dizem que preços estáveis ou em queda são
igualmente ruins.
Que
avisem isso então à indústria de eletroeletrônicos, que vem reduzindo seus
preços há quatro décadas. Em épocas
passadas, principalmente na segunda metade do século XIX, o crescimento
econômico ocorrido em um ambiente de oferta monetária relativamente estável
gerava uma redução
contínua de preços. E nenhum
economista entrava em pânico por isso.
Quando
Obama falou da necessidade de aumentar o salário mínimo dos EUA, Paul Krugman,
que foi laureado com o Nobel de Economia, imediatamente publicou um artigo
defendendo tal aumento. No entanto, até
mesmo um estudante no primeiro ano de uma faculdade de economia sabe que a
imposição de um salário mínimo nada mais é do que um controle de preços, e que
controles de preços distorcem a alocação racional de recursos, servindo apenas
para beneficiar um grupo específico à custa de todo o resto da sociedade.
Embora
algumas pessoas — as produtivas — de fato sejam beneficiadas por um salário
mínimo maior, a maioria pouco qualificada simplesmente será prejudicada, pois
sua baixa produtividade passará a ser muito cara em relação ao novo salário
estipulado. No final, aumentos do
salário mínimo beneficiam apenas alguns sindicatos, pois, embora nenhum de seus
membros receba o salário mínimo, a lei ajuda a protegê-los da concorrência dos
trabalhadores menos qualificados.
(Sindicato nada mais é do que um cartel protegido pelo estado que
expulsa do mercado de trabalho aqueles trabalhadores menos qualificados — ao
mesmo tempo em que utiliza a retórica da proteção aos desfavorecidos.)
No
que mais, como a realidade
vem comprovando sobejamente, naqueles países em que há um salário mínimo, o
desemprego dos jovens é praticamente o dobro do observado naqueles países em
que não há um salário mínimo estipulado pelo governo.
Economistas
também parecem sofrer da síndrome da "inveja da física", o que faz com que eles
passem a defender o uso de modelos matemáticos e empíricos para a
economia. Hoje, para trabalhar em um Banco Central,
você tem de estar totalmente familiarizado com — quando não tem de ser
praticamente um especialista em — modelos
DSGE (modelos dinâmicos e estocásticos de equilíbrio geral).
O
problema com esses modelos, ou com qualquer outro modelo econômico, é que, na
vida real, os parâmetros não são constantes, as variáveis são quase todas
inter-relacionadas, e suas inter-relações estão em contínua mudança. No que mais, em vários desses modelos matemáticos,
algumas variáveis — como as expectativas, que são impossíveis de ser mensuradas
— são omitidas e convenientemente assumidas como desimportantes. É como traçar um mapa com rotas de navegação
marítima e omitir a existência de ilhas.
A
economia é uma ciência social, e a utilização de técnicas aplicáveis apenas às
ciências físicas é totalmente inapropriada.
Dado que não temos um laboratório para conduzir experimentos econômicos,
é difícil fazer uma distinção entre correlação e causalidade, ou determinar
corretamente a direção da causa. A
atividade econômica é baseada em ações humanas, com muito pouca regularidade
empírica. Pode estar um dia de sol e
você ter feito atividades ao ar livre nos últimos três dias; isso não significa
que, no quarto dia, o clima estará propício para um piquenique. Suas ações simplesmente não podem ser
modeladas como as reações de ratos de laboratório em um experimento biológico
controlado. Ao contrário da reação dos
zumbis aos ruídos em The Walking Dead,
humanos não necessariamente reagem aos mesmos eventos da mesma maneira. Os economistas dos bancos centrais ao redor
do mundo devem estar coçando suas cabeças se perguntando por que — ao
contrário de outros eventos do passado — as economias não reagiram como se
esperava à redução das taxas de juros. Trata-se
daquele velho adágio: "Engane-me uma vez, que vergonha para você; engane-me
duas vezes, que vergonha para mim".
Quando
uma pessoa obtém um Ph.D. em física ou em medicina, ela não perde tempo
tentando entender teorias de 200 anos atrás que se revelaram equivocadas. Ambas as profissões estão em constante
avanço, correto? Na economia, infelizmente,
temos erroneamente essa mesma atitude. A
macroeconomia, enquanto profissão, não apenas não avançou, como regrediu. Tínhamos uma melhor compreensão da
macroeconomia 80 anos atrás. Os
políticos colocaram Keynes em um pedestal porque o economista britânico
forneceu a eles uma fundação teórica que justificasse políticas que haviam sido
corretamente ridicularizadas no passado pelos economistas clássicos. Repentinamente, medidas como aumento dos
gastos governamentais, déficits, inflação, protecionismo e regulação — coisas
que políticos adoram — passaram a ser consideradas sensatas, saudáveis e
necessárias.
Economistas
como Smith, Ricardo, Say e Mill lutaram bravamente para contestar a popular e
falsa noção de que os problemas da economia se resumiam a uma produção
excessiva e a uma quantidade insuficiente de dinheiro circulando na
economia. Hoje, os economistas mais
proeminentes dizem que tudo estará bem se o governo estimular a demanda (e, por
tabela, a produção) e aumentar a oferta monetária por meio de crédito barato e de
"afrouxamento quantitativo". Voltamos
exatamente às mesmas concepções erradas propagadas pelos mercantilistas há 250
anos. A diferença é que, hoje, ao
contrário de antigamente, os economistas são aliados dos políticos
mercantilistas, e não seus inimigos.
O
papel do economista é o de explicar não apenas os efeitos diretos, mas também
os efeitos indiretos de toda e qualquer política econômica. Economistas devem saber explicar não apenas
aquilo que podemos ver, como também, e principalmente, aquilo que não estamos vendo. Mais ainda: economistas têm de saber explicar
tudo o que poderá acontecer em decorrência da adoção de
uma determinada política.
Vivemos
em um planeta sujeito a uma restrição chamada gravidade. Podemos nos adaptar à lei da gravidade
criando inovações moldadas a agir de acordo com ela, como aviões, mas não
podemos desafiar a lei da gravidade pulando de um prédio sem pára-quedas. O mesmo raciocínio é válido para a economia e
para a lei da escassez. Erroneamente
acreditamos que, de alguma maneira, a criação de dígitos eletrônicos (dinheiro)
por meio do crédito fácil e barato fará com que coisas surjam do nada e que a
oferta de bens aumente; acreditamos que o crédito fácil tem o poder de abolir a
realidade mais básica do universo, que é a de que vivemos em um mundo de
escassez onde as coisas, para existirem, têm de ser trabalhadas e
transformadas. A mera criação de dígitos
eletrônicos não fará nada para driblar esta dolorosa realidade; gerará apenas aumento de preços.
J.B.
Say certa vez disse que economistas deveriam ser meros "expectadores passivos"
que não sugerem políticas. Ele poderia
ter acrescentado: "e que não dormem com o inimigo".
Fonte:Mises
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