Os altos e baixos da vida. |
O autor Nick Hornby, entre vários trabalhos, já teve sucesso com um
dos seus livros no cinema: a comédia “Alta Fidelidade” (2000) está na
lista de favoritos de muita gente. Agora, chegou a hora de “Uma Longa
Queda” (edição brasileira pela Companhia das Letras) virar filme.
Já na ideia o filme dá espaço para incerteza – trata-se de uma
comédia-drama sobre suicídio. Mas um roteiro divertido, mais a direção
cuidadosa de Pascal Chaumeil garantem que o filme não caia em nenhuma
das armadilhas do tema e divirta.
Martin (Pierce Brosnan) é um apresentador de televisão arruinado.
Maureen (Toni Collette) é uma dona de casa que vive em função de um
filho portador de necessidades especiais. Jess (Imogen Poots) é a filha
revoltada de um político influente. J.J. (Aaron Paul) é um entregador de
pizza sem perspectivas na vida.
Os quatro desconhecidos se encontram por acaso na noite do Ano
Novo no topo de um prédio, prestes a se suicidarem. Com os planos
cancelados, os quatro fazem um pacto – estavam todos proibidos de se
matar até o Dia dos Namorados (Valentine’s Day), e as circunstâncias
passam a juntá-los e mudar suas vidas de maneiras inesperadas.
Se você é fã do livro, é melhor ir ao cinema com a mente aberta, pois
existem várias alterações, especialmente para o fim da trama. Ainda
assim, “Uma Longa Queda” não trai suas origens, e traz personagens muito
bem escritos, bem como diálogos interessantes e algumas heranças de
formato.
O filme é discretamente dividido em partes, cada uma levando o nome
de um dos quatro protagonistas e ganhando foco e narração deles. Isso
ajuda a ganharmos simpatia do grupo e nos dá rapidamente pontos-de-vista
diferentes das relações dos personagens.
A temática de suicídio é tratada com uma maturidade e cuidado únicos,
conseguindo adicionar humor sem forçar a barra em qualquer momento. O
filme não fecha os olhos para o fato que suicídio é uma coisa trágica, e
não torna leviana a decisão dos personagens. Mesmo a discussão do que é
um “bom motivo” ou “mau motivo” para se matar não apresenta pontos
finais, propositadamente, e prefere mostrar que tristeza, desesperança
ou desespero tem muitas causas e podem afetar qualquer um.
Há ainda outros temas interessantes e surpreendentemente sérios, como
a relação entre pais e filhos e até uma pontinha sobre as dificuldades
de tratamento de portadores de necessidades especiais refletido na
relação de Maureen e seu filho Matty.
Calma, eu não estava mentindo quando disse que existem elementos
cômicos no filme. O melhor é que eles estão lá juntamente de todas as
discussões mais sérias.
Inclusive, apesar de tudo isso e de um clima de melancolia
intermitente, no geral até mesmo as cenas tristes nos deixam com um
sorriso no rosto porque há sempre um “que” de esperança. Cada um a seu
modo, os protagonistas também arrancam risos pelas ótimas situações,
especialmente pela personalidade amalucada de Jess ou o egocentrismo de
Martin.
Uma das principais reflexões da obra é exatamente como levar a vida
adiante apesar dos pesares, então temos quatro personagens que são
falidos, se não por dinheiro, por sanidade, moral ou reputação. Nenhum
deles tem grandes perspectivas, e aqui, mesmo que nenhum deles seja
exatamente um molde muito comum, conseguimos nos ver em suas condições
diversas vezes. Algo que ajuda muito é que a divisão por capítulos, bem
como um cuidado de montagem, garantindo que tenhamos praticamente o
mesmo tempo de tela para todos – nenhum dos quatro é “mais protagonista”
que os outros.
Quando o plano de suicídio falha, o grupo acaba descoberto e
perseguido pela mídia, alvo dos paparazzi e dos curiosos, embutindo na
trama críticas interessantes sobre a fama e sobre o que as pessoas
esperam disso. Se as lições sobre a vida e a morte são otimistas, aqui a
perspectiva não é tão boa, e o humor se torna mais ácido (não que isso
seja ruim, pelo contrário).
No fim das contas, se olharmos bem, o enredo em si é relativamente
simples e caminha por rotas seguras. A cada pequeno conflito que surge,
não é difícil imaginar para onde a história irá seguir, mas também não é
como se o filme tivesse a pretensão de surpreender. A direção parece
saber seguramente que quer fazer uma obra divertida, da qual saímos nos
sentindo bem e pensando um pouco sobre a vida.
Fonte:POP
Fonte:POP
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