O
segredo para se entender a China é que o país não é apenas mais uma economia
emergente que vivenciou um forte crescimento e que, agora, está momentaneamente
se esforçando para conter seus excessos.
Também não se trata de mais uma economia que incorreu em uma farra de
investimentos errôneos em ativos fixos, como imóveis, e que agora quer fazer
uma transição para algum tipo mais "normal" de economia, como uma baseada no
consumo.
Não.
A China é uma grotesca aberração econômica,
cujo modelo econômico simplesmente não tem semelhança a nenhum outro
modelo econômico já adotado por algum outro país em algum momento da história
— nem mesmo ao modelo mercantilista de estímulo às exportações originalmente
criado pelo Japão, e que já se comprovou insustentável.
O
governo chinês está nas mãos de um grupo de velhos comunistas que foram criados
sob o regime de Mao. Eles acreditam em
planejamento central, ainda que de uma maneira mais diluída. Eles enviaram seus jovens mais inteligentes
para estudar economia nas universidades americanas. Esses jovens retornaram para a China
keynesianos.
A
economia chinesa é hoje uma mistura maluca de empreendedorismo de livre
mercado, de investimentos subsidiados e dirigidos pelo Banco Central, de
mercantilismo keynesiano, e de planejamento central comunista. Trata-se de um acidente monumental que está
na iminência de acontecer.
A
China é uma nação que, em decorrência de uma monumental bolha de crédito,
incorreu em uma insana mania especulativa direcionada majoritariamente para a
construção civil. As implicações desse
endividamento (todo crédito é um endividamento) e dessa especulação imobiliária
estão sendo resolutamente ignoradas por analistas que ainda estão iludidos pela
noção de que a China criou um modelo econômico singular chamado "capitalismo
vermelho".
Quando
a dívida total (pública e privada) de um país explode de US$1 trilhão para
US$25 trilhões em apenas 14 anos, isso não é capitalismo, nem mesmo
vermelho. Trata-se de insanidade
monetária conduzida pelo estado.
Há
ocasiões em que uma imagem vale mais que mil palavras. Eis a seguir um gráfico que apareceu em uma matéria
do Financial Times que falava sobre
a rápida deterioração do mercado imobiliário chinês. Ao que parece, de acordo com dados da US
Geological Survey e do Comitê Nacional de Estatísticas da China, durante
um período de apenas dois anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da
tão aclamada "agressiva política de estímulos" do governo chinês em resposta à
recessão do mundo desenvolvido, a China
consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!
Consumo de cimento per capita (eixo Y) versus PIB per capita (eixo X) |
Esse
fato insano tem de ser corretamente digerido.
Eis uma maneira de colocar as coisas em suas devidas proporções.
Pense
em todo o processo de urbanização ocorrido nos EUA ao longo dos últimos 100
anos. Pense na construção de todos os
edifícios comerciais, de todos os prédios residenciais, de todas as casas, de
todos os arranha-céus, e de todos os shoppings que adornam as milhares de
cidades americanas da costa leste à oeste.
Pense também na construção de toda a infraestrutura do país, desde as
simples ruas e avenidas das cidades até as grandiosas represas Hoover, TVA e
Grande Coulee, passando por toda a malha de rodovias, aeroportos, portos,
rodoviárias, estações de trem, de metrô.
Pense em todos os estádios de futebol americano, de beisebol, de
basquete, de hóquei; em todos os auditórios e estacionamentos que já foram
construídos no país.
Todo
o volume de cimento gasto nesse processo de 100 anos foi o mesmo que a China
gastou em dois anos.
O
resultado? Cidades completamente vazias.
Portanto, quando as construções pararem — seja porque os preços inflados dos imóveis estão caindo ou porque a expansão creditícia não mais será capaz de continuar sustentando a bolha —, a implosão será trovejante. A produção de cimento pode cair dos atuais 2 bilhões de toneladas por ano para meros 500 milhões; o consumo de aço irá despencar proporcionalmente; frotas industriais de caminhões de cimento e de transporte de aço ficarão ociosas; a demanda por pneus, por componentes de motores, e por combustível para caminhão irá evaporar; empreendedores que fornecem os serviços que suprem este gigantesco fluxo de cimento e aço irão à bancarrota; os apartamentos vazios — ainda chamados de "investimentos" — em posse de seus proprietários serão inúteis.
E quando essa implosão ocorrer, mais de um bilhão de pessoas irá vivenciar em primeira mão como planejamento central, expansão do crédito e inflação monetária produzida por um Banco Central são eficientes em destruir recursos escassos.
Esse será o maior desafio dos oligarcas comunistas. Os chineses conhecem apenas dois sistemas econômicos: o sistema comunista sob Mao e o atual sistema, que é baseado na inflação monetária gerenciada pelo Banco Central e na alocação keynesiana de capital. As massas depositaram sua fé nesse sistema econômico. Quando ele entrar em colapso, as consequências serão interessantes.
Fonte:Mises
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