Relatora da Organização questiona representantes do papa Francisco sobre
'o que tem sido implementado de fato' para conter crimes.
Silvano Tomazzi, perante a comissão da ONU que questiona seriedade da Igreja contra crimes de pedofilia cometidos por padres |
Brasília – A Organização das Nações Unidas (ONU)
acusou hoje (16) o Vaticano de ocultar deliberadamente os casos de
crimes sexuais contra crianças cometidos por religiosos da igreja
católica. A Comissão da ONU para os Direitos da Criança dedicou a
sessão de hoje à avaliação do cumprimento pelo Vaticano dos
compromissos assumidos com a ratificação da Convenção dos Direitos da
Criança. A Igreja lamentou as ocorrências.
"O que tem sido implementado de fato? Quantas pessoas foram
consideradas culpadas? Quantos padres foram entregues para a Justiça?",
questionou Sara Oviedo Fierro, relatora da ONU.
Segundo ela, as sanções adotadas pelo Vaticano apontam que o
"interesse do clero parece ser mais importante do que o interesse da
criança", e acusou a igreja de trabalhar para manter a impunidade sobre o
caso.
"Existe um sistema de ocultação dos crimes", afirmou. Ainda de
acordo com Oviedo Fierro, a Igreja mantém 200 mil escolas pelo mundo,
com cerca de 50 milhões de alunos.
Por sua vez, o Vaticano afirmou que não há desculpa possível para
casos de exploração e violência contra crianças, mas destacou que os
agressores estão presentes "em todas as profissões, incluindo entre
membros do clero e o pessoal da Igreja". As declarações foram dadas por
Silvano Tomasi, representante da Igreja na ONU, em Genebra.
Tomasi fez a apresentação do Vaticano perante a comissão, na primeira
participação da Igreja Católica em um órgão que se propõe a investigar
os abusos sexuais de menores cometidos por sacerdotes em todo o mundo.
O chefe da delegação do Vaticano reconheceu que a questão dos abusos
contra crianças é particularmente grave quando o agressor goza de
grande confiança e cujo papel devia ser o de proteger a pessoa,
incluindo a saúde física, emocional e espiritual. "Esta relação de
confiança é crítica e requer um grande sentido de responsabilidade e
respeito em relação à pessoa que se serve", disse Tomasi.
Mas as explicações foram insuficientes para convencer a comissão da
seriedade do enfrentamento da Igreja ao problema. "O que tem sido
implementado de fato? Quantas pessoas foram consideradas culpadas?
Quantos padres foram entregues para a Justiça?", questionou a relatora
da ONU. Ela ainda acusa o Vaticano de não estar divulgando os números
reais do problema. "Vocês estão dispostos a expor a dimensão do problema
ao mundo? Vocês sabem o número de casos. Por que não difundir?"
Diante dos escândalos de abusos sexuais que vêm sendo noticiados nos
últimos anos, a Igreja chegou a ser acusada de tentar esconder e
desvalorizar o envolvimento de sacerdotes nesses crimes em vários
países.
Depois da apresentação de Tomasi, a comissão pediu esclarecimentos ao
Vaticano sobre como garantir "os interesses superiores da criança"
acima de quaisquer outras considerações, e sobre as medidas de
"reparação física e psicológica" das vítimas.
A sessão de Genebra ocorre quando a pedofilia na Igreja continua no
noticiário: a direção do movimento conservador dos Legionários de
Cristo, desacreditado pelo escândalo pedófilo no qual está implicado o
fundador, o padre mexicano Marcial Maciel, encontra-se reunida para
decidir sobre as reformas a tomar.
Em dezembro, o Vaticano recusou responder a um questionário desta
comissão da ONU, enviado em julho, sobre os dossiês de pedofilia, que
estão sendo examinados pela Congregação para a Doutrina da Fé.
Fonte:RedeBrasilAtual
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