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16 de janeiro de 2014

Prefeito de Londres quer liberar compra de canhões de água contra protestos

Boris Johnson fará consulta pública e pretende convencer governo britânico a comprar três dessas armas; Inglaterra não permite uso.
Protestos têm se intensificado em Londres desde 2011
Londres – Para conter os futuros protestos em Londres, o prefeito Boris Johnson (partido Conservador) pretende adotar uma medida que não é permitida legalmente no Reino Unido: utilizar três canhões de água para serem usados pela Metropolitan Police (polícia local). A compra dos armamentos, segundo os planos da prefeitura, deveria ocorrer no primeiro semestre, para que as armas estejam prontas para uso policial já no próximo verão, em julho.
Em carta à ministra do Interior, Theresa May, do mesmo partido, Johnson diz estar “extremamente convencido” da importância de usar a arma não-letal em protestos considerados violentos, mas anunciou que irá consultar a população londrina sobre a utilização do equipamento em “circunstâncias extremas”.

A consulta pública, que deverá ser feita por meio de audiências populares, está prevista para ocorrer entre o final de janeiro e o início de fevereiro, mas a decisão final de autorizar ou rejeitar o uso dos canhões em Londres é da ministra. Embora seja do mesmo partido de Johnson (e do primeiro-ministro David Cameron), May já se declarou contrária ao uso das armas em protestos estudantis e recusou um pedido anterior do prefeito para financiar a aquisição do armamento. Entretanto, nos bastidores, a maioria dos conservadores tem demonstrado simpatia pela polêmica medida.

Mesmo sendo considerada uma arma “não-letal”, a compra dos canhões de água causa controvérsia, pois o equipamento pode provocar ferimentos graves. Em 2010, um manifestante ficou cego durante um protesto na Alemanha ao ser atingido por um jato d’água.

Atualmente, o uso de canhões de água não é permitido na Inglaterra e no País de Gales. No Reino Unido, apenas a Irlanda do Norte tem autorização para usá-los, sendo que, em 2013, mais de 3.000 policiais foram treinados para usar a arma contra manifestantes durante o encontro dos líderes do G8 (grupo de países mais industrializados e desenvolvidos do mundo). Segundo o Metropolitan Police, caso seja autorizada a compra dos três canhões, mais de 200 policiais deverão passar por treinamento em Londres.

“Os planos de Boris Johnson de colocar canhões de água nas ruas da Grã-Bretanha representam a escalada da demonização dos protestos pelas autoridades britânicas. A maioria esmagadora dos protestos acontece de maneira pacífica”, disse Chris Nineham a Opera Mundi. Ele é vice-presidente da entidade Stop the War (Pare com a Guerra), organização não-governamental criada em 2001 e famosa pelos protestos expressivos pelo fim da ocupação militar no Afeganistão e do Iraque.

Nineham destacou que nas manifestações que apresentam atos violentos, isso costuma ocorrer quando a polícia “encurrala” os manifestantes por horas. “Introduzir o uso de canhões de água só aumentaria ainda mais a tensão e a raiva dos manifestantes. É uma péssima ideia”, criticou.

Para a deputada Jenny Jones (partido Verde), vice-presidente do Comitê de Polícia e Crime da Assembleia de Londres (órgão cuja função é fiscalizar e monitorar as ações da prefeitura), a compra das armas é um gesto que ameaça a democracia.

“Permitir canhões de água nas ruas de Londres é um passo na direção errada, no sentido de armar a nossa polícia como se fosse uma força militar. As pessoas têm o direito democrático de protestar. O meu temor é que, uma vez que o prefeito libere o uso dessa arma, nós a veremos sendo usada contra pessoas que estão exercendo seu direito legal de protestar nas ruas”, disse.

Não é de hoje que medidas tomadas pelo prefeito Boris Johnson para equipar a Metropolitan Police têm incomodado a oposição na Assembleia. Em outubro do ano passado, o comitê de segurança presidido pela deputada trabalhista Joanne McCartney divulgou um relatório em que critica a prefeitura por não consultar a população sobre a compra de centenas de armas de choques elétricos (o chamado “taser”). O equipamento é o mesmo que provocou a morte do estudante brasileiro Roberto Laudísio Curti, 21 anos, em Sydney, na Austrália, em 2012.

“No futuro, tanto a polícia quanto a prefeitura devem esclarecer a necessidade de colocar mais armas nas ruas de Londres”, dizia o relatório, assinado por nove deputados locais, na ocasião da compra dos tasers.

Onda de protestos

A campanha para liberar o uso dos canhões na Inglaterra tem se intensificado desde meados de 2011, quando uma onda de protestos violentos tomou conta de Londres e de várias cidades britânicas, após o jovem negro Mark Duggan, 29 anos, ser assassinado pela polícia durante uma perseguição.

Por coincidência, a carta de Johnson endereçada à ministra do Interior veio a público na mesma semana em que a Justiça absolveu o policial que atirou contra Duggan, embora tenha sido comprovado que ele não estava armado quando foi atingido pelos disparos. Apesar de ter repudiado o veredicto, e de ter promovido uma vigília contra a decisão, a família de Duggan pediu para que as cenas de 2011 não se repetissem e defendeu manifestações pacíficas.

Na nota, o prefeito de Londres se ofereceu para financiar a compra dos canhões de água, caso o governo federal não queira pagar. A prefeitura espera gastar £30 mil (cerca de R$ 120 mil) com cada arma, mas o equipamento deve ser comprado usado, de um fornecedor alemão, já que um novo chega a custar até £1,3 milhão (cerca de R$ 5 milhões).

“Eu fico feliz em disponibilizar para a polícia o investimento necessário para, da maneira mais econômica possível, tornar possível o desejo do comissário (da Metropolitan Police) de prevenir a desordem nas ruas”, disse o prefeito, que garantiu que só usará a arma em casos de “extrema necessidade”. A decisão sobre a adoção dos canhões de água em Londres deve sair no final de fevereiro.

Fonte:RedeBrasilAtual

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