Desde 1901, o prêmio Nobel da Literatura foi concedido aos 110
escritores cujo conjunto da obra foi considerado notável. Ao receber a
cobiçada medalha em outubro de 2013, a canadense Alice Munro se tornou a
décima terceira autora a ser agraciada pela Academia Sueca – número
ainda tímido, mas que torna este o prêmio instituído por Alfred Nobel
com mais representantes do sexo feminino, atrás apenas do Nobel da Paz,
que já honrou o trabalho de 15 mulheres. Quer uma dica de leitura? Saiba
um pouco mais sobre as 13 escritoras vencedoras do prêmio Nobel:
1. Selma Lagerlöf (1858-1940)
“Em apreciação ao grande idealismo, à vívida imaginação e à percepção espiritual que caracterizam seus escritos”
País: Suécia
Ano da premiação: 1909
Além de ter sido a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel da
Literatura, em 1909, em 1914 a sueca Selma Ottilia Lovisa Lagerlöf se
tornou também a primeira a integrar a Academia Sueca, instituição
responsável pela premiação instituída por Alfred Nobel. Entre os seus
livros traduzidos para o português estão o infanto-juvenil A Maravilhosa Viagem de Nils Holgersson através da Suécia (1906) e De Saga em Saga (1908), coletânea de contos e pequenas histórias.
“Por seus escritos idealisticamente inspirados que, com clareza
plástica, retratam a vida em sua ilha nativa e, com profundidade e
simpatia, falam dos problemas humanos em geral”
País: Itália
Ano da premiação: 1926
Amor, dor, morte. Ambientados na ilha de Sardenha, os escritos da
italiana Grazia Deledda são perpassados pelo sentimento do pecado e da
fatalidade da vida. No Brasil, podem ser encontradas edições das obras Caniços ao Vento (1913) e Cosima (1937), livro póstumo que reúne suas memórias.
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3. Sigrid Undse (1882-1949)
País: Dinamarca
Ano da premiação: 1928
Nascida em Kalundborg, na Dinamarca, mas criada na Noruega, Sigrid
Undse perdeu seu pai aos 11 anos. Os problemas financeiros impediram que
frequentasse a universidade, mas o trabalho como datilógrafa acabou
estimulando sua vontade de escrever. Aos 22 anos concluiu seu primeiro
livro, que se passava na Idade Média. O manuscrito foi recusado, mas a
temática acabou se repetindo em sua obra mais aclamada, a trilogia Kristin Lavransdatter
(1920-1922, sem edição brasileira), romance histórico que se passa na
Dinamarca medieval e acompanha a personagem título, uma mulher com
múltiplos conflitos com seus pais e marido e que, gradualmente, perde a
inocência.
4. Pearl Buck (1892-1973)
“Por suas descrições ricas e verdadeiramente épicas da vida camponesa na China e por suas obras primas biográficas”
País: Estados Unidos
Ano da premiação: 1938
Também conhecida por seu nome chinês, Sai Zhen Zhu, a estadunidense
Pearl S. Buck era filha de missionários presbiterianos. Com sua família,
passou grande parte de sua vida na China, onde escreveu obras aclamadas
como A Boa Terra (1931), best-seller que acompanha a vida
de uma família chinesa no campo no período anterior à Primeira Guerra
Mundial, pelo qual recebeu o Prêmio Pulitzer. Após seu retorno para os
Estados Unidos, em 1935, além de dar continuidade à sua carreira como
escritora, tornou-se uma proeminente defensora dos direitos das mulheres
e de grupos minoritários, produziu grande literatura sobre culturas
asiáticas, e tornou-se conhecida por seus esforços em nome da Ásia e
adoção mestiça.
5. Gabriela Mistral (1889-1957)
“Por sua poesia lírica que, inspirada por emoções fortes, fez de seu
nome um símbolo das aspirações idealistas de todo o mundo
latino-americano”
País: Chile
Ano da premiação: 1945
Gabriela Mistral era o pseudônimo de Lucila Godoy Alcayaga, poeta,
educadora e feminista chilena que se tornou a primeira representante (e,
até o momento, única escritora do sexo feminino) da América Latina a
receber o prêmio Nobel de Literatura. Nascida e criada em áreas humildes
do norte do Chile, desde cedo teve contato estreito com a pobreza. Para
ajudar sua família, Gabriela trabalhava como professora assistente no
sistema público de ensino enquanto trabalhava nos versos que a fizeram
famosa internacionalmente. O primeiro reconhecimento de sua obra veio em
1914, quando ganhou o primeiro lugar no concurso literário nacional Juegos Florales, com o trabalho Sonetos da Morte, do mesmo ano.
6. Nelly Sachs (1891-1970)
“Por sua excepcional escrita lírica e dramática, que interpreta o destino de Israel com força tocante”
País: Alemanha
Ano da premiação: 1966
A ascensão do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial na Europa
deixou grandes marcas na escrita e na vida da autora judia alemã Nelly
Sachs. Quando os nazistas tomaram o poder, a escritora foi tomada pelo
terror, chegando a perder a capacidade de falar. Foi com a ajuda da
também escritora e vencedora do Nobel, Selma Lagrlörf, que Nelly
conseguiu fugir para a Suécia em 1940. Depois da morte de sua mãe, foi
acometida por colapsos nervosos, alucinações e delírios de perseguição
pelos nazistas, e passou vários anos em uma instituição mental. Mas,
durante esse tempo, nunca parou de escrever e sua obra fez com que fosse
considerada uma importante porta-voz da tristeza e anseios dos
companheiros judeus.
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7. Nadine Gordimer (1923-)
“Que, através de sua magnífica escrita épica, trouxe – nas palavras de Alfred Nobel – grande benefício para a humanidade”
País: África do Sul
Ano da premiação: 1991
Nadine Gordimer testemunhou de perto a repressão do governo – quando
ainda era adolescente, a polícia invadiu a casa se sua família,
confiscando cartas e diários do quarto de sua empregada. Interessada em
agir ativamente contra a desigualdade racial e econômica na África do
Sul, a escrita da autora e ativista política lida com as difíceis
escolhas morais originadas em uma sociedade marcada pela segregação
racial, tratando particularmente o apartheid – durante o qual um de seus
livros, O Pessoal de July (1982), foi banido.
8. Toni Morrison (1931-)
“Que, nos romances caracterizados por força visionária e importância
poética, dá vida a um aspecto essencial da realidade americana”
País: Estados Unidos
Ano da premiação: 1993
Nascida Chloe Ardelia Wofford, Toni Morrison é conhecida por seus
fortes romances que trazem experiências de mulheres negras nos Estados
Unidos. Toni começou a escrever quando passou a fazer parte de um grupo
informal na Universidade de Howard, onde poetas e escritores se
encontravam para discutir trabalhos. A primeira história que apresentou
falava de uma garota negra que sonhava em ter olhos azuis – conto que
foi desenvolvido e deu origem ao seu romance de estreia, O olho mais azul (1970). Em 1987, Amada,
romance que acompanha a história de Sethe, uma ex-escrava, consolidou
seu reconhecimento ao receber o National Book Award, o National Book
Critics Circle Award e o Prêmio Pulitzer de ficção.
9. Wislawa Szymborska (1923-2012)
“Pela poesia que, com precisão irônica, permite que o contexto
histórico e biológico venha à luz em fragmentos da realidade humana”
País: Polônia
Ano da premiação: 1996
Considerada a “Mozart da poesia”, a escrita de Wislawa Szymborska era
conhecida pelo uso de fábulas, anedotas e metáforas prolongadas, muitas
vezes temperadas com ironia e humor amargo. Sua reputação e premiação
se baseiam em um conjunto de trabalhos relativamente reduzido, com menos
de 350 poemas. Perguntada sobre o motivo de tão poucos de seus escritos
terem sido publicados, a autora, que faleceu em 2012, respondeu certa vez: “eu tenho uma lata de lixo em minha casa”.
10. Elfriede Jelinek (1946-)
“Pelo fluxo musical de vozes e contra-vozes em romances e peças de teatro que, com extraordinário zelo linguístico, revelam o absurdo dos clichês da sociedade e seu poder de subjugar”
País: Áustria
Ano da premiação: 2004
O trabalho literário mais sério de Elfriede Jelinek começou como
parte de sua terapia. Depois de crescer em um ambiente familiar
conflituoso e lidar com pressão crescente que desencadeou um ataque de
ansiedade, a austríaca se voltou às letras. Sua primeira obra, a
coetânea Lisas Shatten, foi publicada em 1967 e, em 1969, recebeu
seu primeiro prêmio literário. O editor Friederike Eigler afirma que
Jelinek tem três principais e inter-relacionados “alvos” em sua escrita:
a sociedade capitalista de consumo e a mercantilização de todos os
seres humanos e as relações; os resquícios do passado fascista da
Áustria na vida pública e privada; e a exploração sistemática e opressão
das mulheres em uma sociedade capitalista-patriarcal.
11. Doris Lessing (1919-)
“Poeta da experiência feminina, que com cepticismo, fogo e poder visionário, sujeitou uma civilização dividida ao escrutínio”
País: Pérsia/Irã
Ano da premiação: 2007
Doris Lessing, pessoa mais velha a receber o Nobel da Literatura, aos
88 anos, abandonou a escola aos 14 anos, quando passou a se educar de
forma independente. Trabalhando como enfermeira, leu muito sobre
política e sociologia, o que a motivou a começar a escrever. Por causa
de seu envolvimento em campanhas contra armas nucleares e o apartheid
sul-africano, Lessing foi banida daquele país e da Rodésia durante
muitos anos. Ela se mudou para Londres com seu filho mais novo, em 1949,
onde publicou seu primeiro romance, A Canção da Relva (1950) e o inovador O Carnê Dourado (1962).
12. Herta Müller (1953-)
País: Romênia
Ano da premiação: 2009
Nascida em Nitchidorf, perto de Timisoara, numa região de tradição
germana na Romênia, Herta Müller é conhecida por suas obras que retratam
os efeitos da violência, da crueldade e do terror, geralmente no
contexto do regime repressivo de Nicolae Ceauşescu, em que ela viveu até
os 34 anos de idade, antes de se exilar na Alemanha. Em 1982, lançou
seu livro de estreia, uma reunião de contos intitulada Niederunge, censurada pelo governo comunista na época. Entre os livros da autora disponíveis em português, estão O Compromisso e Tudo o que Tenho Levo Comigo.
Leia também: Prêmio Nobel de Literatura Herta Müller é internada
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13. Alice Munro (1931-)
País: Canadá
Ano da premiação: 2013
Em 112 anos, esta é a primeira vez que a academia sueca premia um
autor que escreve apenas contos. Não escolheram aleatoriamente: críticos
acreditam que a canadense Alice Munro foi responsável por revolucionar a
arquitetura do gênero, com quebras temporais e experimentações. Chamada
pela escritora Cynthia Ozick de “a Tchéckhov dos norte-americanos” (em
referência ao russo Anton Tchéckhov, autor de peças como Tio Vânia e As três irmãs),
as histórias de Alice geralmente se desenvolvem em cidades pequenas,
“onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações
tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças geracionais ou de
projetos de vida contraditórios”, destacou a Academia Sueca. No Brasil,
Alice Munro tem, atualmente, quatro livros publicados, as coletâneas de
histórias curtas Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, A Fugitiva, Felicidade Demais e O Amor de uma Boa Mulher.
Fonte:super.abril
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