Barack Obama: extrema direita resolve ir pro ataque e deixa presidente acuado, junto com seu partido
O impensável aconteceu: num país que vem se
recuperando lentamente de uma das suas piores crises econômicas, o
rancor da direita provoca o fechamento parcial do governo. De quebra,
isto acontece num momento em que o governo Obama está envolvido em
cruciais negociações no plano internacional.
Mais impensável ainda é o fato de que o motivo de superfície
para tal insanidade é a extensão de seguridade médica para uma larga
faixa de população desassistida, através de uma rede pública.
Seria o mesmo, analogamente, se a direita do Congresso
brasileiro se mobilizasse para inviabilizar o SUS. Bom, não precisamos
ir longe: a direita, com o apoio do setor “ameba” do Congresso
brasileiro, composto pelos parlamentares “que vão com a onda do momento”
inviabilizou a cobrança da CPMF, provocando um rombo nas contas da
saúde pública nacional.
Mas o cenário presente dos rancores de direita é Washington. O
Partido Republicano, que tem maioria na Câmara de Deputados, votou a lei
do financiamento das despesas do governo norte-americano para o próximo
ano fiscal condicionando esta autorização à suspensão por um ano da
entrada em vigor do chamado “Obamacare”, a lei anteriormente aprovada no
Congresso e sustentada pela Suprema Corte que universaliza o sistema de
saúde.
O Senado, onde a maioria é democrata, não aceitou a chantagem, e
rejeitou a proposta aprovada na Câmara, aprovando o financiamento sem
aquela condição. A bola voltou para a Câmara, que nada fez.
Provavelmente, se houvesse uma nova votação, o condicionamento seria
suspenso, pois uma parte do Partido Republicano, inclusive o presidente
da Câmara, deputado John Boehner, teme que este endurecimento prejudique
o seu desempenho nas eleições parlamentares de 2014. Mas a dureza da
sua ala mais sectária provocou o impasse.
O resultado desta situação é o fechamento das agências do
governo federal consideradas não essenciais. Parques nacionais, museus,
até a NASA estão sendo paralisados. São 800 mil funcionários federais
que ficam sem pagamento; outros, como entre os militares, terão seus
salários atrasados, criando um efeito cascata que pode, no limite, fazer
o país voltar ao estado de recessão em que se encontrava ao alvorecer
da crise financeira de 2008.
Uma parte desta temeridade se deve sim ao rancor da maioria dos
republicanos em relação a Obama. O “Obamacare” é, sem dúvida, o maior
sucesso do presidente na frente interna, ao lado da política, ainda que
lenta, gradual e insegura que vem tirando o país da recessão. Na frente
externa, sem dúvida, depois do “perfil john Wayne” desenvolvido no
tratamento da crise provocada pelo uso do gás Sarin na Síria, o
presidente Obama marcou pontos ao abrir uma possível porta de negociação
com o presidente do Irã, Hassan Rouhani, recém-eleito e empossado.
Para a extrema-direita internacional (o governo de Israel e a
monarquia saudita, por exemplo) e nacional (o Tea Party dos Estados
Unidos, por exemplo) a dose foi demasiada. Algo tinha de ser feito. E
os republicanos fizeram.
Mas não há só rancor nesta aparente maluquice. Há também
cálculo. O que está em jogo para o Tea Party e seus simpatizantes ou
próximos não é apenas o enfrentamento imediato com Obama ou uma posição
de princípio contra a expansão dos serviços públicos. Está em jogo
também o controle sobre o próprio Partido Republicano.
De momento, enquanto os democratas contam com pelo menos três
possibilidades fortes para a sucessão de Barack Obama, que já está no
segundo mandato e não pode se candidatar de novo (John Kerry, Hillary
Clinton e o vice Joe Biden), os republicanos não têm nenhuma (John
McCain e Mitt Romney parecem já pertencer ao limbo da história
pregressa).
O presidente da Câmara, John Bohener, é visto pelos mais
radicais da direita como vacilante demais (!), e há um clima de disputa
viva pela liderança do partido entre vários parlamentares que se propõem
“mais duros” quanto a princípios ideológicos como o Estado mínimo, a
contenção das despesas públicas, a privatização de tudo etc.
São eles, dentre possíveis outros, Ted Cruz (do Texas, que
liderou a chantagem contra o “Obamacare”), Paul Ryan (que foi vice de
Mitt Romney na última eleição), Eric Cantor, Marco Rubio, Rand Paul. São
quase todos jovens políticos ambiciosos, e que contam com uma
“progressão conservadora” do eleitorado norte-americano.
Porém não se descarta a possibilidade de que estejam, na
verdade, contando com os ovos antes de serem postos pela galinha. Da
última vez em que os republicanos “cercaram” um presidente democrata (no
caso, Bill Clinton), manietando o financiamento das despesas de governo
durante alguns meses, a ousadia custou-lhes caro, e eles perderam o
controle do Congresso na eleição seguinte.
Mas nada disso parece deter estes próceres da direita, já que
para eles o que conta, de imediato, é ganhar o controle e a liderança
dentro do próprio partido.
Fonte:RedeBrasilAtual
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