Para desgosto dos franceses, a caligrafia está morrendo nos Estados
Unidos. Será que este é o destino da técnica no resto do mundo?
Para o horror dos franceses, a caligrafia está em vias de desaparição nos EUA
Fico admirado quando vejo a letra cursiva que minha filha de 12 anos
aprimorou em cursos de caligrafia desde a maternal em escolas públicas
na França. É uma letra arredondada, pequena, uma verdadeira arte.
Desenha com igual habilidade em uma escola de arte cuja professora
ministra aulas no Louvre. Quando era um pouco mais velho que ela
abandonei a letra cursiva pela bastão quando mudei para os Estados
Unidos. Minha letra cursiva era um desastre, como a de meu filho de 9
anos, também ele a estudar na França. Em contrapartida, ele lê muito e é
excelente aluno de matemática.
Cada um de meus filhos tem aptidão para uma matéria escolar, o que já é muito.
Portanto, não vejo com horror, como a vasta maioria dos franceses, o
fato de a caligrafia, e aqui refiro-me ao ensino de letras cursivas
redondas e ligadas umas às outras, estar em vias de desaparição em 45
dos 50 estados nos Estados Unidos.
Se na França a letra cursiva faz parte da identidade nacional, nos
EUA predominará, como tem sido o caso desde o início do século passado, a
letra bastão, ou de fôrma. Esta é mais fácil de aprender e, segundo
alguns pedagogos, mais democrática. O motivo? A letra bastão se
assemelha mais àquela de jornais, revistas, cartazes, e, mais
importante, do computador. Ademais, pessoas isentas de talento são
punidas com notas baixas em aulas de caligrafia em países como a França.
É a vitória dos teclados de computadores?
Para os norte-americanos, a partir do primeiro ano é mais importante
ensinar para a criança a digitar rapidamente do que passar horas a fio
para aperfeiçoar a letra.
No entanto, Laura Dinehart, da Universidade da Flórida, disse em uma
entrevista recente que existe uma sólida correlação entre o aprendizado
precoce da caligrafia e o bom desenvolvimento escolar do aluno.
Será?
Dinehart, é verdade, oferece estatísticas convincentes. E nos diz que
é mais fácil memorizar copiando um texto à mão do que no teclado de um
laptop. De fato, em bibliotecas francesas vejo muita gente a copiar
textos à mão, mas também detecto centenas de laptops.
Em entrevista para um website brasileiro, Francisca Paula Toledo
Monteiro, professora de alfabetização infantil da Unicamp, pondera: “Não
há utilidade na letra cursiva nem em termos de coordenação motora,
porque essa coordenação não é testada pela letra. Ela se dá na interação
da criança com o mundo e com os outros”.
Em miúdos, a criança obtém melhor coordenação (um dos motivos pelos
quais se ensina caligrafia na França) ao se alimentar com garfo e faca,
ao amarrar o tênis, ao aprender a chutar uma bola, etc.
Além disso, hoje nos comunicamos mais via outros meios: SMS, tweets, e-mails.
A letra bastão não é somente mais democrática – mas ela está em sintonia com os novos tempos.
Ao invés de passar horas a aprimorar sua caligrafia, minha filha
poderá desenhar mais, ir a mostras e estudar história. Por sua vez, meu
filho terá mais tempo para ler, estudar matemática e jogar bola.
Quanto a mim, que adotei há décadas a letra bastão só uso lápis e
papel para fazer anotações rápidas e, quando não uso gravador, para
registrar as respostas de entrevistados. E só eu entendo meus
garranchos.
Fonte:CartaCapital
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