O maior confronto entre manifestantes e a polícia grega em mais de um
ano teve canhões de água e coquetéis molotov nesta quarta-feira (7), na
praça Syntagma, do lado de fora do Parlamento. Não há relatos de feridos
em Atenas até o momento. Segundo a polícia, pelo menos 35 pessoas foram
detidas e quatro tiveram problemas respiratórios.
Cerca de 100 mil gregos agitaram bandeiras e cantaram "Lutem! Eles estão
bebendo nosso sangue" na praça em frente ao Parlamento grego, onde
legisladores devem votar um impopular pacote de cortes orçamentários e
reformas trabalhistas para evitar a falência das contas públicas do
país.
A violência eclodiu por volta das 15h15 (horário de Brasília),
quando alguns manifestantes tentaram romper a barreira policial para
entrar no Parlamento o que levou a polícia a responder com bombas de
gás lacrimogêneo e de efeito moral e, pela primeira vez em um protesto
anti-austeridade, com canhões de água.
Dentro do Parlamento, a sessão foi interrompida por um breve período
pelos próprios trabalhadores da Casa, que entraram em greve para
protestar contra uma cláusula que cortaria seus salários. Em uma
humilhante reviravolta, o governo foi obrigado a cancelar a medida para
permitir que a sessão fosse retomada.
"Hoje nós vamos votar se permanecemos na zona do euro ou se retornamos
ao isolamento internacional e atendemos à falência completa", disse o
primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, em seu um último apelo aos
legisladores aprovar as medidas.
O país precisa aprovar as medidas para desbloquear a ajuda financeira
que tem a receber para evitar a falência. O debate final e a votação
estão previstos para a meia noite local (21h de Brasília).
Os parlamentares debatem cortes salariais e aumentos de impostos no
valor de € 13,5 bilhões até 2016. Se aprovado, o pacote irá destravar
uma parcela de mais de € 31 bilhões de ajuda da UE (União Europeia) e do
FMI (Fundo Monetário Internacional).
Fora do Parlamento, manifestantes encapuzados atiravam coquetéis molotov
e pedras contra a polícia. Focos de fumaça e de pequenos incêndios
pontuavam a praça e ruas próximas à casa legislativa.
"Essas medidas estão nos matando pouco a pouco e legisladores lá não dão
a mínima", disse Maria Aliferopoulou, 52, mãe de dois filhos que vive
com mil euros por mês. "Eles são ricos e têm tudo. Nós não temos nada e
estamos lutando por migalhas, pela sobrevivência".
"Você vive em constante medo e incerteza. Você nunca sabe o que está
esperando por você ao virar da esquina", disse Panos Goutsis, 58, que
trabalha em uma loja de pequeno canto em Atenas. "Quantas vezes eles nos
dizem estas são as últimas medidas? Estamos cansados
​​de ouvir isso."
GREVE DE 48 HORAS
É o segundo dia consecutivo da paralisação de 48 horas convocada pelos
sindicatos em protesto às novas medidas de austeridade. A paralização
afeta principalmente a indústria, os bancos, a administração pública, as
escolas, os centros de saúde e os transportes terrestre e marítimo.
Apoiados pela oposição de esquerda, sindicatos dizem que as medidas vão
afetar os pobres e poupar os ricos e aprofundar a recessão de cinco anos
que cortou um quinto da produção grega e levou o desemprego para 25%.
"As políticas do resgate são completamente catastróficas,
escandalosamente absurdas, uma falha total", disse Alexis Tsipras, chefe
do partido de oposição ao resgate Syriza, em entrevista ao jornal
"Efimerida Syntakton".
APROVAÇÃO DO PACOTE
A votação sobre os cortes nos salários e aumentos de impostos previstos
em € 13,5 bilhões é o maior teste para Samaras desde que ele chegou ao
poder, em junho. Os mais de € 31 bilhões em ajuda vão ajudar a
fortalecer os bancos em dificuldades e pagar a dívida pública do país no
final do mês. Um "não" hoje seria um desastre para a Grécia.
Samaras deve ter uma vitória apertada no Parlamento, com cerca de 155
dos 300 votos do Parlamento, apesar de algumas deserções de sua frágil
coalizão governista.
Mais cedo, o comissário da UE para assuntos econômicos e monetários,
Olli Rehn, pediu ao Parlamento grego para fazer a sua parte e aprovar as
medidas, garantindo a próxima parcela do resgate.
Fonte:FS
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