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8 de novembro de 2013

Atuação de Hanks e direção de Greengrass sustentam "Capitão Phillips"

Hanks mantendo a frieza com uma arma na cabeça
A sequência inicial de "Capitão Phillips" não apenas são uma aula de bom cinema, aquele que usa as imagens para criar relações de sentido, como estão lá para estabelecer perfeitamente quem são os dois pólos, os dois personagens centrais do longa, de onde vieram e para onde vão. À seu modo particular, tanto Richard Phillips quanto Muse - papéis de Tom Hanks e Barkhad Abdi - têm suas preocupações, medos e angústias e precisam deixar isso de lado para o que é mais um dia, mais uma jornada, de trabalho.

Os dois, capitães sérios, se lançam ao mar. Phillips é da marinha mercante. Muse, um pirata somali. A colisão entre esses dois destinos é a matéria base para Paul Greengrass criar seu filme. Sua câmera vacilante, com cortes rápidos, nos coloca no meio da ação. Que não dá trégua em nenhum de seus três atos. As tentativas de abordagem e invasão ao navio; o jogo de gato e rato entre os dois capitães; e a tensão da operação militar.

Piratas invadindo a cabine
A câmera no ombro, que em "Supremacia e Ultimato Bourne" tinha uma função mais estético-sensorial, aqui ajudam tanto no realismo quanto saber que o filme é realmente baseado em fatos reais. A imersão é impressionante para um `truque` que é sensivelmente mais barato do que o 3D - ainda que seja tão difícil de executar tecnicamente quanto.

Ainda que Greengrass busque deixar marcado a dualidade - especialmente para não ser acusado de parcial, ao dar um contexto para os somalis, sempre retratados mais esfomeados e desesperados do que maus, pura e simplesmente -, o filme é de Hanks e seu Phillips. A esperteza do personagem, sua dedicação e seriedade e, por fim, seu desabamento, só são críveis, emocionantes até, por conta do trabalho do ator, que explora o roteiro com uma maestria ímpar.

Toda uma miríade de emoções
 
Ainda assim, Barkhad Abdi, com sua magreza e frieza, ambos com uma origem comum na miséria, é o contraponto perfeito ao Phillips branco, bem nutrido e minimamente escolarizado de Hanks. É até impressionante que Greengrass, mesmo preocupado com todos os seus maneirismos com a câmera, ainda tenha tido tempo e cabeça para trabalhar com um ator novato e que, ainda por cima, estava atuando em somali a maior parte do tempo.

Disso tudo emerge o terceiro ato, com Phillips à mercê dos piratas e o governo americano se mobilizando para resolver a situação. A tensão não cessa. Pelo contrário. Mas fica a sensação de que Greengrass optou por dar um passo atrás e evitar o comentário político - mundos e fundos são movidos para salvar a vida de um único homem, enquanto esses mesmos recursos poderiam ser aplicados na causa do problema. Não compromete o filme como um todo, mas deixa um certo amargor.



Abordagem dos piratas

Greengrass faz parecer fácil, um trabalho que é bem complexo e delicado. Note, por exemplo, como nunca vemos Phillips completamente enquadrado até que ele chega ao terminal de cargas. O diretor nos mostra que, apesar de marido e pai de família dedicado, é só é uma pessoa inteira, completa, quando está em seu trabalho, comandando sua tripulação.

É desse tipo de sutileza que todo o filme é construído. Não há um único diálogo, por exemplo, da tripulação reclamando de como seu Capitão é controlador, chato, perfeccionista. Greengrass consegue nos mostrar isso com o silêncio da tripulação, que se limitam a olhar uns para os outros de forma cúmplice. Trabalho para mestres.
Fonte:POP

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