Um belo dia de sol em Munique e eu com os
meus dias contados para voltar ao Brasil não poderia deixar de visitar
um dos lugares mais temidos no passado aqui na Alemanha: O Campo de
Concentração de Dachau.
Localizada a cerca de 20 minutos do
centro de Munique, Dachau é célebre não só por ter sido um dos maiores
campos de concentração nazis, mas também por ter sido o primeiro a ser
construído no regime hitleriano em Março de 1933, três meses após a
ascensão de Hitler ao poder .
O campo foi instalado em uma antiga
fabrica de munições da Primeira Guerra Mundial com o intuito de abrigar
os prisioneiros contrários ao partido de Hitler e a principio foi
designado para abrigar 6.000 prisioneiros, porém chegou a abrigar 32.000
pessoas, as quais ao longo dos anos sofreram os mais variados tipos de
tortura e sofrimento atrás das cercas de arame que impediam-nas de ver o
mundo exterior.
Os prisioneiros eram obrigados a realizar
trabalhos árduos e não tinham sequer um dia de descanso, além disso
todas as manhãs e ao entardecer tinham que participar de uma chamada
para contagem dos prisioneiros, fosse o tempo ou a temperatura que fosse
permaneciam em pé durante uma hora. Muitas vezes os corpos dos mortos
ao longo dia eram expostos no chão para a contagem. Caso essa contagem
não batesse com o número oficial de prisioneiros – por exemplo após uma
tentativa de fuga – a tortura poderia durar varias horas. Isso sem
contar os prisioneiros que sentiam-se mal e fracos durante a contagem e
acabavam desmaiando e ninguém podia ajudá-los, ou aqueles que eram
punidos em frente aos demais.
Logo no portão de entrada do campo de concentração de Dachau encontramos a inscrição ARBEIT MACHT FREI
(o trabalho liberta), o que na época foi uma grande encenação aos meios
de comunicação e representantes mundiais que em visitas ao campo tinham
a impressão de que os prisioneiros eram bem tratados e estavam ali para
trabalhar e conseguir sua liberdade, o que na verdade não passava de
uma grande farsa.
Em sua carta de agradecimento após a vista a Dachau em 1938, o então membro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha Guillaume Favre
citou: “Eu gostaria de salientar que tudo o que eu vi e ouvi, além das
condições de vida, do material e da higiene do campo, incluindo o
tratamento, o cuidado e o trabalho dos prisioneiros, causou em mim uma
impressão positiva.”
Obviamente essa impressão era apenas uma
manipulação, pois o campo de Dachau servia de exemplo para os demais
campos alemães. Ali existiam centros médicos e odontológicos que na
verdade não tinham o intuito de ajudar aos prisioneiros doentes, mas sim
extrair seus dentes de ouro e/ou a pratica de experiências médicas como
a pesquisa da cura da malaria, o efeito da pressão atmosférica em
pilotos de caça, as características do corpo em imersão em águas gélidas
e profundas, etc, o que levou a morte de milhares de prisioneiros.
Certamente a higiene era algo
impressionante, pois os prisioneiros eram obrigados a limpar seus
barracões e arrumar suas camas de tal maneira que não tivesse um
amarrotado nos lençóis, sem contar a limpeza dos pratos que tinham que
ficar brilhando no final das refeições. Caso isso não acontecesse os
prisioneiros eram torturados, muitas vezes até a morte.
Um dos métodos mais utilizados para a
tortura era o chicote, uma dose de 25 chicotadas que deviam ser contadas
pelo prisioneiro no idioma alemão (ele sabendo ou não o idioma) e caso
ele deixasse de contar o castigo poderia durar muito mais do que o
previsto e levá-lo a morte.
Ao contrario do que muitos pensam, o
campo de concentração na sua fase inicial foi abrigo majoritariamente de
prisioneiros políticos e contava na época com um pequeno número de
judeus. Somente a partir de 1935 o campo passou a receber emigrantes,
testemunhas de Jeová, homossexuais e criminosos profissionais. Após a
anexação da Áustria em Abril de 1938, diversos oponentes ao Nazismo,
Judeus e ciganos passaram também a ser trazidos para Dachau.
O Campo de Dachau possuía vários
barracões onde os prisioneiros dormiam em beliches de 3 andares, cada um
com seu armário numerado onde guardavam seus utensílios como pratos e
suas roupas (os uniformes listrados do campo) e partilhavam os banheiros
coletivos.
O campo era protegido com cercas
eletrificadas e uma trincheira delimitava o espaço até onde os
prisioneiros poderiam aproximar-se. Muitos deles desesperados ou mesmo
cansados de tanto sofrimento acabavam aproximando-se e eram mortos a
tiros pelos homens do SS – Schutzstaffel (tropa de proteção) que
vigiavam o campo.
A parte mais triste da visita a Dachau
certamente é o crematório onde milhares de pessoas foram incineradas e
mortas na câmara de gás.
O antigo crematório, construído em 1940
após o aumento da mortalidade no campo de Dachau, funcionou até o ano de
1943 e neste período cerca de 11.000 prisioneiros foram ali cremados.
Porém nas instalações do novo crematório surgiu a amedrontadora câmara
de gás, uma construção despretensiosa que aos olhos dos prisioneiros
deveria parecer somente o local onde eles tomariam o banho semanal. Ao
chegar a esse local os prisioneiros eram levados a uma sala de
desinfecção onde deixavam suas roupas, passando então para a câmara de
gás onde eles pensavam que iriam tomar banho, pois o local foi
construído com mangueiras para camuflar o seu verdadeiro objetivo. Após
serem mortos na câmara, os prisioneiros eram empilhados na sala seguinte
e depois cremados nos fornos com capacidade para até dois corpos por
vez.
Os prisioneiros que sobreviveram aos
horrores deste campo de concentração foram libertados em 1945 pelos
americanos, no entanto além dos habituais problemas de desnutrição e
dificuldades de encontrar parentes e amigos em seus países de origem,
havia uma epidemia de febre tifóide entre eles e mesmo após a
libertação, milhares deles continuaram vivendo ali, pois não tinham mais
para onde regressar, assim sendo, Dachau tornou-se um campo de
refugiados entre os anos 1948 e 1960.
Hoje o Memorial de Dachau mostra ao mundo
a história destes milhares de prisioneiros que sofreram um ato desumano
e cruel e com isso pretende homenagear os mortos com essa lembrança
viva e com a esperança de que esses atos não voltem a se repetir jamais
entre os seres humanos.
Der toten zur Ehr den Lebenden zur Mahnung
(para homenagear os mortos, uma lembrança viva)
COMO CHEGAR EM DACHAU:
desde Munique basta pegar o S2 até a estação de Dachau, depois o ônibus
726 que para na porta do Memorial que abre das 09:00 as 17:00hs (exceto
Segundas-feiras) e tem entrada franca. O Bayern ticket XXL custa 7,50
euros, pode ser comprado diretamente nas máquinas automáticas das
estações e vale o dia inteiro.
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