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20 de outubro de 2012

O campo de concentração de Dachau.

Um belo dia de sol em Munique e eu com os meus dias contados para voltar ao Brasil não poderia deixar de visitar um dos lugares mais temidos no passado aqui na Alemanha: O Campo de Concentração de Dachau.
Localizada a cerca de 20 minutos do centro de Munique, Dachau é célebre não só por ter sido um dos maiores campos de concentração nazis, mas também por ter sido o primeiro a ser construído no regime hitleriano em Março de 1933, três meses após a ascensão de Hitler ao poder .
O campo foi instalado em uma antiga fabrica de munições da Primeira Guerra Mundial com o intuito de abrigar os prisioneiros contrários ao partido de Hitler e a principio foi designado para abrigar 6.000 prisioneiros, porém chegou a abrigar 32.000 pessoas, as quais ao longo dos anos sofreram os mais variados tipos de tortura e sofrimento atrás das cercas de arame que impediam-nas de ver o mundo exterior.
Os prisioneiros eram obrigados a realizar trabalhos árduos e não tinham sequer um dia de descanso, além disso todas as manhãs e ao entardecer tinham que participar de uma chamada para contagem dos prisioneiros, fosse o tempo ou a temperatura que fosse permaneciam em pé durante uma hora. Muitas vezes os corpos dos mortos ao longo dia eram expostos no chão para a contagem. Caso essa contagem não batesse com o número oficial de prisioneiros  – por exemplo após uma tentativa de fuga – a tortura poderia durar varias horas. Isso sem contar os prisioneiros que sentiam-se mal e fracos durante a contagem e acabavam desmaiando e ninguém podia ajudá-los, ou aqueles que eram punidos em frente aos demais.
Logo no portão de entrada do campo de concentração de Dachau encontramos a inscrição ARBEIT MACHT FREI (o trabalho liberta), o que na época foi uma grande encenação aos meios de comunicação e representantes mundiais que em visitas ao campo tinham a impressão de que os prisioneiros eram bem tratados e estavam ali para trabalhar e conseguir sua liberdade, o que na verdade não passava de uma grande farsa.

Em sua carta de agradecimento após a vista a Dachau em 1938, o então membro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha Guillaume Favre citou: “Eu gostaria de salientar que tudo o que eu vi e ouvi, além das condições de vida, do material e da higiene do campo, incluindo o tratamento, o cuidado e o trabalho dos prisioneiros, causou em mim uma impressão positiva.”
Obviamente essa impressão era apenas uma manipulação, pois o campo de Dachau servia de exemplo para os demais campos alemães. Ali existiam centros médicos e odontológicos que na verdade não tinham o intuito de ajudar aos prisioneiros doentes, mas sim extrair seus dentes de ouro e/ou a pratica de experiências médicas como a pesquisa da cura da malaria, o efeito da pressão atmosférica em pilotos de caça, as características do corpo em imersão em águas gélidas e profundas, etc, o que levou a morte de milhares de prisioneiros.
Certamente a higiene era algo impressionante, pois os prisioneiros eram obrigados a limpar seus barracões e arrumar suas camas de tal maneira que não tivesse um amarrotado nos lençóis, sem contar a limpeza dos pratos que tinham que ficar brilhando no final das refeições. Caso isso não acontecesse os prisioneiros eram torturados, muitas vezes até a morte.
Um dos métodos mais utilizados para a tortura era o chicote, uma dose de 25 chicotadas que deviam ser contadas pelo prisioneiro no idioma alemão (ele sabendo ou não o idioma) e caso ele deixasse de contar o castigo poderia durar muito mais do que o previsto e levá-lo a morte.
Ao contrario do que muitos pensam, o campo de concentração na sua fase inicial foi abrigo majoritariamente de prisioneiros políticos e contava na época com um pequeno número de judeus. Somente a partir de 1935 o campo passou a receber emigrantes, testemunhas de Jeová, homossexuais e criminosos profissionais. Após a anexação da Áustria em Abril de 1938, diversos oponentes ao Nazismo, Judeus e ciganos passaram também a ser trazidos para Dachau.
O Campo de Dachau possuía vários barracões onde os prisioneiros dormiam em beliches de 3 andares, cada um com seu armário numerado onde guardavam seus utensílios como pratos e suas roupas (os uniformes listrados do campo) e partilhavam os banheiros coletivos.
O campo era protegido com cercas eletrificadas e uma trincheira delimitava o espaço até onde os prisioneiros poderiam aproximar-se. Muitos deles desesperados ou mesmo cansados de tanto sofrimento acabavam aproximando-se e eram mortos a tiros pelos homens do SS – Schutzstaffel (tropa de proteção) que vigiavam o campo.
A parte mais triste da visita a Dachau certamente é o crematório onde milhares de pessoas foram incineradas e mortas na câmara de gás.
O antigo crematório, construído em 1940 após o aumento da mortalidade no campo de Dachau, funcionou até o ano de 1943 e neste período cerca de 11.000 prisioneiros foram ali cremados. Porém nas instalações do novo crematório surgiu a amedrontadora câmara de gás, uma construção despretensiosa que aos olhos dos prisioneiros deveria parecer somente o local onde eles tomariam o banho semanal. Ao chegar a esse local os prisioneiros eram levados a uma sala de desinfecção onde deixavam suas roupas, passando então para a câmara de gás onde eles pensavam que iriam tomar banho, pois o local foi construído com mangueiras para camuflar o seu verdadeiro objetivo. Após serem mortos na câmara, os prisioneiros eram empilhados na sala seguinte e depois cremados nos fornos com capacidade para até dois corpos por vez.
Os prisioneiros que sobreviveram aos horrores deste campo de concentração foram libertados em 1945 pelos americanos, no entanto além dos habituais problemas de desnutrição e dificuldades de encontrar parentes e amigos em seus países de origem, havia uma epidemia de febre tifóide entre eles e mesmo após a libertação, milhares deles continuaram vivendo ali, pois não tinham mais para onde regressar, assim sendo, Dachau tornou-se um campo de refugiados entre os anos 1948 e 1960.
Hoje o Memorial de Dachau mostra ao mundo a história destes milhares de prisioneiros que sofreram um ato desumano e cruel e com isso pretende homenagear os mortos com essa lembrança viva e com a esperança de que esses atos não voltem a se repetir jamais entre os seres humanos.
Der toten zur Ehr den Lebenden zur Mahnung
(para homenagear os mortos, uma lembrança viva)
COMO CHEGAR EM DACHAU: desde Munique basta pegar o S2 até a estação de Dachau, depois o ônibus 726 que para na porta do Memorial que abre das 09:00 as 17:00hs (exceto Segundas-feiras) e tem entrada franca. O Bayern ticket XXL custa 7,50 euros, pode ser comprado diretamente nas máquinas automáticas das estações e vale o dia inteiro.

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